Em uma praça dentro de um grande sanatório de Salvador, familiares ou até mesmo os poucos amigos que persistiram, estão a visitar os pacientes do hospital. O silêncio prevalece - não há conversa! – apenas sentam lado a lado, lancham e perdem-se em seus mundos, cada um com uma lógica própria.
Comumente é assim que se sucedem as visitas aos internos em sanatórios, manicômios ou Hospitais Psiquiátricos. Essas são instituições cujo fim é abrigar, recolher e prestar alguma assistência ao indivíduo que por agentes ocasionais ou por disposições psico-fisiológicas desenvolveu algum tipo de transtorno mental. Na Bahia especificamente, de acordo com o Ministério da Saúde, existem nove hospitais que se destinam à saúde mental, em um total de 1.633 leitos.
O portador de sofrimento mental é considerado dessa forma, pois apresenta, em qualquer aspecto, anormalidade perante o comportamento aceito em uma sociedade. Para Hegel – filósofo alemão - a loucura não seria a perda abstrata da razão ou sua ausência, tornando possível pensá-la como pertinente à dimensão humana - e conclui: “A razão só se realiza através da loucura”. Ou mesmo como foi citado por Freud: “Todas as pessoas têm um pouco de neurose em si, sendo apenas o excesso chamado de patológico.”
Proporcionalmente à quantidade de tentativas de se definir este, até então incompreendido, estado da mente humana; teve-se em relação aos protestos contra os tratamentos aplicados aos pacientes nos hospitais: excesso de medicamentos e eletroconvulsoterapia (utilizada apenas no tratamento de algumas patologias psiquiátricas resistentes à medicação).
Dessas reivindicações resultou a Reforma Psiquiátrica, iniciada no final da década de 70, que propunha a regulamentação dos direitos dos usuários do serviço de saúde mental, a extinção progressiva dos manicômios no país (até 2010), fechamento de leitos e o estabelecimento de modelos substitutivos ao hospital (Hospital Dia, Centro de Convivência e Residências Terapêuticas); direitos, somente em 2001, garantidos, pela aprovação da Lei Federal nº10.216.
A magnitude do problema no Brasil, acerca dos transtornos mentais e as condições dos pacientes exigem maior atenção por parte de quem é julgado portador (ainda) da razão. Não se pode negar, no entanto, que as reflexões entre loucura e razão, estão ganhando maior espaço. No âmbito das artes (ou não-arte dos loucos), valoriza-se cada vez mais o ato espontâneo, expressivo e não repetitivo e cuja configuração extrapola o mimetismo cultural. Na Literatura,“Conto dos Malditos” de Austregésilo Bueno origina o filme “ Bicho de sete cabeças”.
Lembrar-se, desse modo, da existência dos inúmeros “loucos-anônimos” é um importante passo para impor que a sociedade repense, de modo crítico, os reais(ou fictícios) limites da razão. É fundamental também reavaliar: se se exceder tais limites é justificativa para privar alguém do convívio social; e quem será realmente o alienado: o louco ou o alienista?!
Encontrar uma lógica própria de mundo, enfim; é digno de mais coerência do que viver em um mundo sem lógicas.
Marcadores: Jornalísticos
4 Comments:
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Me fez até pensar: uma exclue a outra? Pelo visto não. Existem momentos que cada uma prevalece, uma alternância.
Quantos aos filmes e livros que vc citou, são muito bons para nos fazer repensar.
À vontade para comentar!
:D