Pesquisando a vida de moradores de rua, nota-se que predominam três variações destes: os mendigos, os deficientes mentais e os andarilhos; sendo que o uruguaio Ícaro Lemos, de 50 anos, encaixa-se neste último.
Com uma filosofia de vida diferente, Ícaro redescobriu nos 26 anos que mora nas ruas, importantes valores como o respeito ao próximo que é ainda desconhecido por parte de quem não se julga “à margem da sociedade”.
Com uma filosofia de vida diferente, Ícaro redescobriu nos 26 anos que mora nas ruas, importantes valores como o respeito ao próximo que é ainda desconhecido por parte de quem não se julga “à margem da sociedade”.
Certas concepções como as de felicidade e sabedoria devem ser repensadas quando se aprende que viver é mais do que achar que uns são superiores a outros.
Em entrevista, Ícaro Lemos conta-nos seu dia-a-dia, sonhos e dificuldades nas ruas:
Marília Marques – Há 26 anos você iniciou uma vida de andarilho. Como veio parar nas ruas de Salvador?
Ícaro Lemos – Apesar de ser formado em filosofia por uma universidade uruguaia, acredito que a melhor universidade é a da vida. Morei na China sete anos e quatro meses, e por opção, iniciei uma vida nômade. Devido a esta opção, já conheço catorze países, entre eles a Cisjordânia e o Marrocos, e falo três idiomas: mandarim, espanhol e português. Cheguei ao Brasil faz vinte anos, e para me manter, vendo artesanatos.
Marília – Como é o seu dia-a-dia?
Ícaro Lemos – Tomo café da manhã, almoço e janto com o dinheiro do meu trabalho; à tarde faço artesanatos para vender, e à noite durmo, normalmente.
Marília – A vida nas ruas é muito dura. Como foi para se adaptar a dormir nas ruas?
Ícaro Lemos – Tive que superar o medo de dormir nas ruas e me desapegar das coisas materiais.
Marília - Você abriu mão de muitas coisas na vida. E sua família está entre elas?
Ícaro Lemos – Sim, não a tenho mais. Eu decidi que para viver do eu modo, teria que me desapegar de tudo e de todos. Minha família cobrava apenas um diploma de doutor e não se preocupava se eu era feliz ou não!
Marília – As pessoas encontram a felicidade de modos diferentes. Como a encontrou ou de que modo acredita que irá encontrá-la?
Ícaro Lemos – A felicidade para mim é feita de momentos. Porem algo que me deixaria feliz seria a tomada das armas.
Marília – Qual o seu maior sonho e o seu maior medo?
Ícaro Lemos – Poder ver e participar da revolução sul-americana contra o império do catolicismo e tenho medo da ira do Altíssimo.
Marília - Você acredita em Deus?
Ícaro Lemos – Não acredito no “seu” Deus, mas no qual tenho dentro de mim.
Marília – O que pede a Deus quando reza?
Ícaro Lemos – Eu não rezo; medito...Encontro-O sempre quando estou em silêncio.
Marília – Como cidadão, você vota?
Ícaro Lemos – Não, nunca votei, nem no Brasil, nem no Uruguai, pois vivo num sistema paralelo.
Marília – Como é sua relação com outros moradores de rua?
Ícaro Lemos – Não me relaciono com eles.
Marília – O que mudaria nas pessoas hoje?
Ícaro Lemos – O coração delas. Nós, moradores de rua, somos considerados “moscas de praça pública”, por isso eu utilizo roupa branca, para que as pessoas me enxerguem. Me sinto vítima da sociedade e percebo isto na força do olhar das pessoas, pois esta é a arma mais poderosa que o homem possui.
Marília – Qual mensagem você passaria para o mundo?
Ícaro Lemos – Que o ser humano precisa aprender a viver em paz; para isso, as armas devem ser tomadas e os homens devem respeitar-se mutuamente.
Marília – Como acha que será o seu futuro?
Ícaro Lemos – O meu futuro será como o seu, morrerei como qualquer outra pessoa. Todos sabem como vieram ao mundo, porém não se sabe como partiremos dele.
Marília – E o futuro do mundo?
Ícaro Lemos – Será um futuro revoltado, pois não se fala mais em amor, ou quando se fala, é com mentiras e falsidade. As relações hoje são falsas ou por interesses.
Entrevista medalha de prata no concurso Jornalista do Futuro do Jornal Folha Dirigida em 2007.
Entrevista medalha de prata no concurso Jornalista do Futuro do Jornal Folha Dirigida em 2007.
Marcadores: Jornalísticos
7 Comments:
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eu já conheci vários...
uma mente dessa tem q se organizar...
refletir...e não largar de estudar...
para poder repartir um pouco do que sabe e sente
Seria adquirir conhecimentos por meio da experiência.
Ícaros...Conheci apenas um; sempre especial em suas palavras.
AbraçoOO
é bom se conhecer outras opniões, outro mundo.
quando puder vai lá:
dajanelaparatela.blogspot.com
beijoss
Valeu! :P