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Confissão!



Dia 10 de novembro ele confessou; não com essas palavras, mas disse que era Alberto¹. Foi diante de uma sala repleta de alunos seus. Estava ali, desnudo, sem representar papéis.

¹ Comentário referente a uma confusão autor / personagem em RIBEIRO, Carlos. Lunaris. Salvador: EPP Publicações e Publicidade, 2007.

Novos olhares sobre a vida

     Pesquisando a vida de moradores de rua, nota-se que predominam três variações destes: os mendigos, os deficientes mentais e os andarilhos; sendo que o uruguaio Ícaro Lemos, de 50 anos, encaixa-se neste último.

    Com uma filosofia de vida diferente, Ícaro redescobriu nos 26 anos que mora nas ruas, importantes valores como o respeito ao próximo que é ainda desconhecido por parte de quem não se julga “à margem da sociedade”.

   Certas concepções como as de felicidade e sabedoria devem ser repensadas quando se aprende que viver é mais do que achar que uns são superiores a outros.
  
   Em entrevista, Ícaro Lemos conta-nos seu dia-a-dia, sonhos e dificuldades nas ruas:



Marília Marques Há 26 anos você iniciou uma vida de andarilho. Como veio parar nas ruas de Salvador?

Ícaro Lemos – Apesar de ser formado em filosofia por uma universidade uruguaia, acredito que a melhor universidade é a da vida. Morei na China sete anos e quatro meses, e por opção, iniciei uma vida nômade. Devido a esta opção, já conheço catorze países, entre eles a Cisjordânia e o Marrocos, e falo três idiomas: mandarim, espanhol e português. Cheguei ao Brasil faz vinte anos, e para me manter, vendo artesanatos.

Marília – Como é o seu dia-a-dia?

Ícaro Lemos – Tomo café da manhã, almoço e janto com o dinheiro do meu trabalho; à tarde faço artesanatos para vender, e à noite durmo, normalmente.

Marília – A vida nas ruas é muito dura. Como foi para se adaptar a dormir nas ruas?

Ícaro Lemos – Tive que superar o medo de dormir nas ruas e me desapegar das coisas materiais.

Marília - Você abriu mão de muitas coisas na vida. E sua família está entre elas?

Ícaro Lemos – Sim, não a tenho mais. Eu decidi que para viver do eu modo, teria que me desapegar de tudo e de todos. Minha família cobrava apenas um diploma de doutor e não se preocupava se eu era feliz ou não!

Marília – As pessoas encontram a felicidade de modos diferentes. Como a encontrou ou de que modo acredita que irá encontrá-la?

Ícaro Lemos – A felicidade para mim é feita de momentos. Porem algo que me deixaria feliz seria a tomada das armas.

Marília – Qual o seu maior sonho e o seu maior medo?

Ícaro Lemos – Poder ver e participar da revolução sul-americana contra o império do catolicismo e tenho medo da ira do Altíssimo.

Marília - Você acredita em Deus?

Ícaro Lemos – Não acredito no “seu” Deus, mas no qual tenho dentro de mim.

Marília – O que pede a Deus quando reza?

Ícaro Lemos – Eu não rezo; medito...Encontro-O sempre quando estou em silêncio.

Marília – Como cidadão, você vota?

Ícaro Lemos – Não, nunca votei, nem no Brasil, nem no Uruguai, pois vivo num sistema paralelo.

Marília – Como é sua relação com outros moradores de rua?

Ícaro Lemos – Não me relaciono com eles.

Marília – O que mudaria nas pessoas hoje?

Ícaro Lemos – O coração delas. Nós, moradores de rua, somos considerados “moscas de praça pública”, por isso eu utilizo roupa branca, para que as pessoas me enxerguem. Me sinto vítima da sociedade e percebo isto na força do olhar das pessoas, pois esta é a arma mais poderosa que o homem possui.

Marília – Qual mensagem você passaria para o mundo?

Ícaro Lemos – Que o ser humano precisa aprender a viver em paz; para isso, as armas devem ser tomadas e os homens devem respeitar-se mutuamente.

Marília – Como acha que será o seu futuro?

Ícaro Lemos – O meu futuro será como o seu, morrerei como qualquer outra pessoa. Todos sabem como vieram ao mundo, porém não se sabe como partiremos dele.

Marília – E o futuro do mundo?

Ícaro Lemos – Será um futuro revoltado, pois não se fala mais em amor, ou quando se fala, é com mentiras e falsidade. As relações hoje são falsas ou por interesses.


Entrevista medalha de prata no concurso Jornalista do Futuro do Jornal Folha Dirigida em 2007. 


O limiar da razão

Em uma praça dentro de um grande sanatório de Salvador, familiares ou até mesmo os poucos amigos que persistiram, estão a visitar os pacientes do hospital. O silêncio prevalece - não há conversa! – apenas sentam lado a lado, lancham e perdem-se em seus mundos, cada um com uma lógica própria.


                                                                                                                         O Grito - Edvard Münch

  
Comumente é assim que se sucedem as visitas aos internos em sanatórios, manicômios ou Hospitais Psiquiátricos. Essas são instituições cujo fim é abrigar, recolher e prestar alguma assistência ao indivíduo que por agentes ocasionais ou por disposições psico-fisiológicas desenvolveu algum tipo de transtorno mental. Na Bahia especificamente, de acordo com o Ministério da Saúde, existem nove hospitais que se destinam à saúde mental, em um total de 1.633 leitos.

O portador de sofrimento mental é considerado dessa forma, pois apresenta, em qualquer aspecto, anormalidade perante o comportamento aceito em uma sociedade. Para Hegel – filósofo alemão - a loucura não seria a perda abstrata da razão ou sua ausência, tornando possível pensá-la como pertinente à dimensão humana - e conclui: “A razão só se realiza através da loucura”. Ou mesmo como foi citado por Freud: “Todas as pessoas têm um pouco de neurose em si, sendo apenas o excesso chamado de patológico.”

Proporcionalmente à quantidade de tentativas de se definir este, até então incompreendido, estado da mente humana; teve-se em relação aos protestos contra os tratamentos aplicados aos pacientes nos hospitais: excesso de medicamentos e eletroconvulsoterapia (utilizada apenas no tratamento de algumas patologias psiquiátricas resistentes à medicação).

Dessas reivindicações resultou a Reforma Psiquiátrica, iniciada no final da década de 70, que propunha a regulamentação dos direitos dos usuários do serviço de saúde mental, a extinção progressiva dos manicômios no país (até 2010), fechamento de leitos e o estabelecimento de modelos substitutivos ao hospital (Hospital Dia, Centro de Convivência e Residências Terapêuticas); direitos, somente em 2001, garantidos, pela aprovação da Lei Federal nº10.216.

A magnitude do problema no Brasil, acerca dos transtornos mentais e as condições dos pacientes exigem maior atenção por parte de quem é julgado portador (ainda) da razão. Não se pode negar, no entanto, que as reflexões entre loucura e razão, estão ganhando maior espaço. No âmbito das artes (ou não-arte dos loucos), valoriza-se cada vez mais o ato espontâneo, expressivo e não repetitivo e cuja configuração extrapola o mimetismo cultural. Na Literatura,“Conto dos Malditos” de Austregésilo Bueno origina o filme “ Bicho de sete cabeças”.

Lembrar-se, desse modo, da existência dos inúmeros “loucos-anônimos” é um importante passo para impor que a sociedade repense, de modo crítico, os reais(ou fictícios) limites da razão. É fundamental também reavaliar: se se exceder tais limites é justificativa para privar alguém do convívio social; e quem será realmente o alienado: o louco ou o alienista?!

Encontrar uma lógica própria de mundo, enfim; é digno de mais coerência do que viver em um mundo sem lógicas.

Espaços para arte em Cachoeira

Por Marília Marques
mariliadelimamarques@hotmail.com


Em Cachoeira, cidade histórica, se destacam duas casas que abrigam a diversidade das linguagens artísticas do Recôncavo; o Pouso da Palavra e o Sebo Café-com-Arte Ana Nery.

Pouso - Em 1991, o poeta Damário DaCruz, com recursos obtidos a partir da publicação das 4ª e 5ª edições de seu poema ‘’Todo risco’’, reformou um sobrado situado na Praça da Aclamação e inaugurou no ano 2000 o Pouso da Palavra.

O Pouso, como é popularmente conhecido, surgiu da necessidade em abrigar as obras do proprietário, também poeta, jornalista e fotógrafo; além das obras de outros artistas do Recôncavo. O ambiente possui decoração personalizada, riqueza de detalhes, antiguidades e peças de outros países. De acordo com Damário, a escolha dos artistas que expõem suas obras no espaço é feita através de convites ou análise da qualidade dos quadros dos pintores que o procuram. Afirma também que em nove anos de existência o espaço recebeu por volta de 300mil visitas, sendo 60% delas de turistas brasileiros ou estrangeiros e 40% de estudantes.
Ao ser perguntado sobre projetos futuros de expansão do Pouso da Palavra, Damário DaCruz diz que pretende retomar um espaço no Rio Vermelho - Orla de Salvador - inviabilizado pela ocorrência do salitre, além da criação de um espaço em Lisboa / Portugal, em Luanda / Angola; e que deseja para Cachoeira a criação de mais 18 casas como o Pouso, de bom nível cultural.

Sebo Café-com-Arte Ana Nery - A chegada da UFRB, a dificuldade em se comprar livros baratos e a inexistência de um sebo nas cidades de Cachoeira e São Félix despertou em Michel Bogdanowicz, 63, a idéia da implantação de um ambiente de incentivo à leitura na cidade. Para se ter uma idéia do sucesso do empreendimento, foram vendidos, no período de um ano, cerca de 2.500 livros; ‘’São livros de literatura, romance, best-sellers, psicologia; uma série de obras inicialmente da minha coleção pessoal’’, explica o proprietário do sebo.
O Sebo expõe obras de arte e promove eventos culturais como lançamento de livros, mostra de cinema, a exemplo do CineCaos; apresentação de grupos musicais que tocam Blues, Jazz e MPB, revelando a quem chega o estilo aconchegante do ambiente.
A divulgação do espaço é pensada através da existência de obras e da diversidade dos gostos. ‘’É uma escolha aleatória (das pinturas expostas). Tento trazer para cá os artistas mais famosos do Recôncavo. Apresento quadros, fotos artísticas, tudo misturado... Eu procuro esses artistas ou os próprios artistas me procuram o que ocorre na maioria das vezes. Não é nada rígido ’’ ressalta Michel.
Perguntado sobre como seu espaço contribui para democratizar o acesso à arte, Michel afirma que o Sebo Ana Nery é freqüentado tanto por turistas como por moradores, sendo que a maior freqüência é de professores e estudantes; ‘’Algumas outras pessoas se inibem pelo ambiente, muitos não se identificam (...). Exigimos apenas um comportamento ético ’’ , enfatiza.

É dessa forma que quem está na heróica Cachoeira encontra o  destino certo ao buscar o contato com as diversas formas de arte.


Onde encontrar:
Pouso da Palavra: Praça da Aclamação, nº 08, Cachoeira – Bahia
Sebo Café-com-Arte Ana Nery: Rua 13 de Maio / Próximo a Fundação Hansen Bahia.

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