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Desdentada desde a juventude, tudo que ela não queria ouvir eram histórias engraçadas. Com uma rotina dura, dividida entre o varrer e o lavar do chão, não havia tempo pro lazer. No máximo uma parada solitária em frente à pequena Tv da sala mal ventilada.

Se ali na pequena tela ela ouvisse algo que por acaso despertasse o riso de outras pessoas da plateia do estúdio, essa velha senhora, mesmo sem processar ao certo a informação, soltava um riso alto, em apenas um som entrecortado e logo se censurava escondendo vergonhosamente com as mãos aquela expressão de alegria.

Foto de Sebastião Salgado.
Nas ruas não respondia a “bom dias” nem encarava por mais de cinco segundos um conhecido. E sofria, porque na cidade onde morava todos se conheciam. Passavam por ela e saudavam-na por Das Dores! mesmo que ela achasse que o nome não lhe caía bem. Das Dores enxergava tristeza em seu nome, não achava-o digno de alguém como ela, com saúde – mesmo que todas as noites sofresse com dores no corpo – com uma casa, apesar dos assombros diários em época de chuva e deslizamentos e com comida na mesa – mesmo que em muitas manhãs acorde massageando o ventre vazio e dolorido pela falta de alimento do dia anterior.

Das Dores não tinha ambições, pra ela era pecado querer mais do que se tinha. Não tinha curiosidade pra nada: se alguém lhe falasse que precisava conversar com ela no dia seguinte, essa velha senhora não dava importância. Saber das coisas trazia sofrimento e sofrer fazia as costas dela doerem terrivelmente.

Das Dores tinha medos, medos bobos até para uma criança: não se sentia bem na presença de palhaços, acelerava-lhe o peito só de pensar nos coelhos que a vizinha criava no quintal ao lado. Evitava multidões, barulho, pisar em tapetes e atravessar ruas movimentadas. Sentia-se enjoada em ônibus, tinha medo de que te pedissem informações nas ruas ou que a mandassem ler alguma coisa em voz alta: Das Dores nunca aprendera a ler. Sua maior frustração. Queria poder entender o que estava escrito nas paredes da igreja próxima a casa da patroa.

Das Dores era humilhada diariamente, mesmo sem intenções propositais. Tudo lhe doia. Tudo lhe causava constrangimento. Possuía medos incompreendidos, um nome que lhe causava desgostos e o pior, há muito foi lhe tirado o direito de sorrir. A vida tinha lhe reservado um destino cru e sem espaços para graça.



HERANÇAS

Foto reprodução / pesquisa Google.

Não havia como escolher outra profissão. As primeiras inspirações vieram do AVÔ materno: ainda aos 98 anos, idade que faleceu, tinha sempre à mão alguma coisa que pudesse ser lida. Podiam até ser livros que ele já tinha conhecido há um tempo atrás, mas gostava de repassar com os dedos e olhos ágeis aquelas linhas amareladas. Os três volumes do Conde de Monte Cristo  foram um dos últimos que o vi relendo. 

O Livro Sagrado era o maior domínio dele. Dominava a Bíblia de trás pra frente e falava dela com entusiamo. Conhecia as cartas, capítulos e versículos e os explicava como ninguém. 

Sabia de História, atualidades e Matemática. Mas contar causos era o seu forte. A retórica era nata. Entretia qualquer intelectual que ousasse dialogar com ele. Meu avô tinha argumentos, tinha leitura, mas acima de tudo, tinha vivências!

A AVÓ também não fica atrás: estava sempre ao lado dele no sofá, impecável! Seja com uma revista aberta nas mãos, uma página de jornal, a Bíblia ou até mesmo os jornais das missas de domingo. Antenada com o que acontece à sua volta, hoje aos 93 anos, pode ser indagada sobre qualquer assunto da cidade, novidades do prefeito, fatos novos da família, casamentos, nascimentos, separações…ela sempre sabe algo a mais.

Outra grande influência é o PAI: todo retorno do trabalho ele traz novidades do mundo. Na segunda o assunto é o futebol do domingo. Às terças vêm histórias de catástrofes naturais, aumento dos índices de assaltos. No retorno da quarta o assunto é Economia. Quintas e sextas o foco é a carreira: histórias de pessoas que venceram na vida, alguém que fez intercâmbio, profissões valorizadas, situação das universidades brasileiras… 

O  nosso fim de semana é atualizado com assuntos leves – ciência, curiosidades, filmes em cartaz. E por vezes, pode ser a repercussão daquilo que mais foi dito na mídia. O meu pai é um jornal ambulante, não há como negar! Domina todas as editorias. Dá de dez a zero em qualquer estudante ou editor-chefe! 

Foto reprodução internet.
O incentivo maior parte mesmo daquilo que ele traz e mostra com orgulho todas as noites: JORNAIS e REVISTAS dos mais impensáveis gêneros. A última remessa veio recheada com um inusitado Guia de Golfe no Brasil (!!!). Vieram de bônus uma edição histórica da revista Época sobre a ditadura; a revista Muito sobre a cidade de Salvador; uma Globo Rural; revistas de Comunicação e Marketing; Viver Brasil; a Brasileiros com capa de Luiza Erundina; uma outra especial sobre a Rede Glogo de televisão… E mais: Encontro Luxo, Affari Negócios; revistas de Educação e variedades… Sem falar nos jornais diários: Folha de S.Paulo, A Tarde e Correio.

O restante da família também não deixa a desejar: a MÂE lê com gosto tudo aquilo que vê pela frente, não dispensa dicas de leitura e tá sempre se atualizando. A irmã por sua vez, separa revistas e jornais, lê com cautela, grifando cada linha de seu interesse como se fosse um artigo científico.

Não havia mesmo como escolher outra profissão! A herança deixada por todos podia sim estar contida nos genes, mas não deixava de ser a herança principal os bons exemplos que sabiam transmitir. Amam a leitura, a boa conversa, interessam-se por pessoas e por aquilo que acontece à volta. Sabem observar o mundo como ninguém. Faltam a eles mais voz, papel e caneta… Possuem almas de jornalistas e pouco sabem.


Marília Marques é estudante de jornalismo e andava se perguntando os porquês de ter escolhido o curso. Uma das respostas veio com o texto… =)



O Blog mudou!!!

Foto: Nádia Junqueira
ENSAIOS, na literatura, são textos que por características são breves, às vezes poéticos, às vezes filosóficos e que de alguma forma estão aí para expor ideias e contar histórias. E para nós, nada melhor do que ter no nome do BLOG a leveza deste gênero textual.

Reescrevendo a realidade cotidiana, o blog ENSAIOS tenta mostrar através das suas crônicas quantas sutibilidades existem no dia-a-dia do homem comum, seja ele parte desta gente simples dos subúrbios ou aquela senhora cheias de rugas e histórias que vive numa zona distante.

Esvazie-se primeiramente e...bom deleite! Aqui você encontrará as “pequenas metáforas da existência humana”. BOA LEITURA !!!

Uma crônica pelos ares

Avião da TAP, voo 0157                                                                  
Fevereiro de 2012
Lisboa – Salvador


Avião da TAP sobre o Oceano Atlântico
Por Marília Marques
Quando eu entrei no avião, no voo de retorno ao Brasil depois de um ano vivendo, viajando e estudando em Portugal; um senhor já estava sentado na poltrona ao lado da minha. Com a minha mala e muitos casacos na mão eu o cumprimentei com um “boa tarde” antes de sentar-me. Ele respondeu-me sério, mas gentilmente e ofereceu-se para pôr minha mala (e os 367 casacos que eu trazia na mão, rs) no porta-malas.

Era mesmo um senhor daqueles que têm cabelos brancos, usa óculos, deixa as pernas cruzadas e segura um jornal sobre os joelhos. Eu ri da figura meio-exótica-meio-normal ao meu lado, que olhava todas as pessoas do avião como que tentando desvendá-las e, de repente ele percebe meu riso de leve analisando a excentricidade dele, pára o olhar sobre mim e pergunta-me:

- Tudo bem?

Sinceramente não estava tudo bem. Eu já estava concentrada nos sons à minha volta, que eram os mesmos que um dia, um ano atrás eu já tinha escutado:  a turbina do avião mesclados com o da minha respiração ofegante antes da decolagem. E eu pensei no momento da pergunta dele em dizer tudo isto. Em pedir: “Um momento, por favor, este momento é só meu. Quero estar aqui quientinha… concentrada na minha dor de ser arracanda de um lugar que eu ainda não queria deixar!”

Mas tudo isso seria dramático demais…E eu apenas respondi:

- Sim, tudo bem e você?

Pronto! Foi a oportunidade dele poder me perguntar mais. Perguntou-me se eu vivia em Portugal e a quanto tempo eu estava. Depois que eu contei-lhe que era um intercâmbio e que eu estudava jornalismo e tal e coisa, ele me perguntou em tom de desentendimento:

- E por que já está voltando?

Eu sorri. E não quis responder com palavras (era complexo demais para mim aceitar que estava voltando tão cedo)… Mas talvez não tenha respondido pois realmente nem eu sabia o porquê. Fiz-lhe simplesmente um levantar de ombros. Ele entendeu.

Eu realmente não estava pra conversa. Estava sendo duro demais para mim partir. A cena da despedida dos amigos na rodoviária de Bragança / Portugal – cidade onde eu estava vivendo – ainda estava viva na minha cabeça. Isso de dizer “adeus”, balançar o braço e dar tchauzinho já era parte da minha vida há uns três anos desde que fui viver fora de casa para estudar em outras cidades, mas confesso que não é nada fácil de lidar com despedidas; principalmente se for aquelas em que você abraça teus amigos e tem a noção de que no instante do abraço nasce o medo de nunca mais revê-los. Estranha sensação de olhar nos olhos de cada um,  rever e sentir tudo o que já se passou em 1 ano de convivência.

E depois que eu não soube explicá-lo porque eu já estava voltando do intercâmbio, ficou um silêncio entre nós até o momento em que o avião já havia ganhado altitude. Eu me via entre as nuvens novamente – sensação que me fazia bem – com a cabeça em direção à janela observando a cidade de Lisboa ficar pequenina até este senhor interromper meu transe e perguntar-me em tom de afirmação:

- O teu sonho acabou, hein?! 

Aquilo foi tão duro de ouvir que eu olhei incomodada para ele e respondi:

- Ainda não.

Ele brincou:

- Ah, então só acaba quando chegar em Salvador…?!?

Eu sorri:

-Quando eu chegar, meus sonhos só estarão recomeçando, acredite.

Ele ergueu a sobrancelha direita em tom de desafio e prosseguiu novamente em silêncio. Mas em seguida a esta minha última frase que era só uma “consolação” de mim para mim mesma, eu logo lembrei:

É verdade, vai ser complicado voltar.  A cidade se preparando para o Carnaval (algo que nem de longe estava em minhas prioridades participar por agora), sem falar na drástica mudança climática – afinal não é fácil deixar o inverno rigoroso de uma cidade europeia para aterrisar em pleno verão de Salvador. Sem falar de que as pessoas da cidade estavam se recompondo da onda de violência que foi notícia em alguns jornais do mundo em decorrência da greve da polícia militar na Bahia.

Deixei os pensamentos de lado. Neste instante eu tinha a mente limpinha. E o tal senhor insistia em me fazer pensar sobre o meu retorno. Perguntou-me se eu estava feliz, se um dia eu pretendia voltar e quais eram o meus planos em relação aos estudos. Notei que tudo estava ficando filosófico e profundo demais. E enquanto conversava agora tranquilamente com ele, uma lágrima – bem discreta – caiu em um dos meus olhos. Eu, rapidamente enxuguei-a com uma das mãos e prossegui na conversa, meio sem jeito. O tal senhor disse-me num tom sério:

- Não tenha receio em deixar transparecer se tens medo.

Eu nem hesitei e repondi:

- Não estou com medo.

E ele:

- Está sim. Tens medo de como será a tua volta ao Brasil.

Eu novamente disse-lhe:

- E por que você está dizendo isso?

O senhor respondeu imediatamente:

- Porque se fosse eu teria. Eu estou só a dois meses longe do Brasil. Mas sei que a cidade está um caos. Estávamos em greve da polícia, a segurança é um assunto esquecido pelo governo; no calor nem se fala… O Carnaval é a maior preocupação atual, o prefeito não quer mais saber da nossa cidade. Tem lixo, muito barulho nas ruas, desorganização… Você bem sabe, mas agora tudo o que você vir será de um ângulo diferente. Tudo fica mais intenso.

Sim, eu sabia que a minha visão das coisas e pessoas não seria mais a mesma. Eu sabia! Mas ele não precisava ser tão direto assim! Reclinei a poltrona e prossegui vendo as nuvens passarem. Já era quase noite no céu. Eu estava sobre o oceano e  ainda faltavam algumas horas de voo até a chegada em solo brasileiro.
O senhor disse-me mais muitas coisas sobre as experiências dele de viagens, de jornalistas que ele conhecia, das coisas que ele achava sobre o mundo e sobre as pessoas. Depois dormiu. E de repente, como se estivesse com o corpo programado, acordou quando estávamos próximos a aterrisar, e na fila para descermos do avião ele estava em minha frente. Próximo à saída ele virou-se para mim e disse-me mais ou menos assim:

- Quando a realidade chegar de verdade, garota, lembre-se que não foram as coisas que mudaram, é você que não é mais a mesma! Até logo!

E nesta noite em que a temperatura era nada menos que 28graus, o ar quente de Salvador entrou pelo meu nariz e foi aí que senti que realmente eu estava de volta.




Por Marília Marques

Vista da cidade de Bragança com o castelo ao fundo.
Por Jérôme Mondry
Estar por alguns meses distante da terra natal não parece uma tarefa fácil para muitas pessoas. Agora imaginem viver um ano completo longe de tudo que lhe é familiar? Este é o desafio que um intercâmbio num outro país nos proporciona.

Das aprendizagens obtidas num intercâmbio a mais importante tem sido a de conviver com pessoas dantes nunca vistas  e com isso, aprender a lidar com aquilo que é diferente. Um outro aspecto que aqui sempre despertou a minha atenção é o facto de eu ter estado todo o ano a conviver com o efêmero. Para um intercambista quase tudo se torna passageiro: em primeiro lugar você tem sempre um prazo determinado para retornar ao teu país. Depois sabe que este tempo longe do teu ambiente natural nunca será igual - e se fosse, a experiência não teria a mínima graça!! E como um estudante em mobilidade tem a noção de que o tempo está a passar e que é preciso aproveitá-lo, perder uma oportunidade é erro gravíssimo. Ter o máximo de experiências é a regra geral. 

Aqui o tempo corre diferente. É tudo mais rápido. As estações do ano, por exemplo te faz ter o ano segmentado em fases. No inverno o estado carência das pessoas é o que domina. Na primavera as coisas possuem uma luz diferente, tudo fica mais alegre e colorido. O verão é a euforia geral: piscinas públicas, sol nos jardins, pessoas muito mais bem dispostas e um calor que lembra a minha terra de origem. E por fim, o outono é novidade, ao menos para mim: folhas secas no chão, tempo fresco e o amarelar das folhas.
Esta sensação é sentida especialmente por pessoas que vieram de países quentes, em que este ciclo das quatro estações não é sentido, a exemplo do Brasil, como também afirma a estudante Anna Luísa:

“Quando cheguei em Bragança, em setembro, o clima ainda não estava  tão diferente do meu país, o Brasil, porque ainda estava quente e para adaptar foi mais fácil. Na medida em que o inverno foi chegando ficou bem mais difícil e a gente não tinha roupas adequadas, então tivemos que nos acostumar com o tempo mais frio.”

E Taiane Nazaré:

“Eu acho Bragança uma cidade ótima para morar, apesar de ser uma cidade pequena o interessante é que a cidade te proporciona várias condições para você ter uma vida boa, tem muitas atividades culturais, a agenda cultural de Bragança é muito grande em relação a uma cidade pequena no Brasil, então eu acho que esse incentivo de ter atividades para pessoas da cidade é muito interessante, é uma das coisas que eu acho mais positiva na cidade.”

Outro aspecto a destacar deste intercâmbio em Bragança são algumas dificuldades enfrentadas especialmente por nós, estudantes brasileirAs: ainda somos vistas com um certo ar de desconfiança, principalmente por aqueles menos esclarecidos e que não se mostram disposto a analisar a diferença das situações que agora vivemos. O facto de ser diferente e estar sob o olhar de muitos na cidade é também sentido por estudantes de países que falam outra língua, como os da China, Eslováquia ou Costa Rica.

O estudante Harold que vive em Bragança falou-me um pouco sobre as experiências e dificuldades encontradas para alguém que não é falante natural do português:

“Quando llegué aqui en Bragança fue muy complicado debido al idioma, pero conforme aprendi el idioma y con esto fue mucho más facíl el processo de adaptación. Para integrar-me fue relativamente facíl, pues la facilidad de aprender portugués hablando español es una cosa que se leva en cuenta. La ciudad nos permite conocer a mucha gente portuguesa. La gente portuguesa muchas vezes no se relacionan con nosotros y también no se relacionan mucho más con los Erasmus  por cuestión del idioma de hablar inglés o español..en general la experiencia fue buena, con sus altos y bajos, pero en general fue bien.”

Geada durante o inverno.
Por Marília Marques
Mas além das dificuldades, os estudantes que para cá vêm sentem-se bem, divertem-se, abrem-se para esta nova cultura. Portugal, em especial Trás-os-Montes, é descrito por mim como uma terra de contrastes: de frio e de calor, aceitação e resistências, tradição e o novo. A vida de um estudante Erasmus, portanto é isto: abrir-se para a cultura do país em que se está, mostrar um pouco da tua própria, sentir saudades, sobreviver às dificuldades, conhecer o novo, viajar, respeitar o que é diferente e, por fim, retornar ao teu próprio país com um número maior de aprendizados na bagagem do que os de souvenirs que se pode levar.


(Esta reportagem foi veiculada na Rádio de Bragança - RBA -  em Portugal / Espanha).

"To change"

É incrível como um intercâmbio além de mudar a tua  própria vida, consegue alterar os costumes de toda a tua família: seus PAIS passam a conhecer muito mais os detalhes sobre os países pelos quais voce passa. Eles se tornam especialistas nas cotações da bolsa de valores - acompanhando fielmente todas as variações do euro, dólar e real. 

Seus IRMÃOS, por sua vez, passam também a criar laços com as pessoas que voce conhece - seja em que parte do mundo elas estejam – e aproveitam para pôr em prática aquele velho inglês...(ou um francês inicial)... Tão sempre a sugerir os próximos destinos de viagens, sonham ao teu lado e mesmo que passem alguns dias sem se falarem mantêm o pensamento em sintonia e sabem que é isto que importa.

 As fotos que você publica são como "injeções de felicidade" quando vistas por sua família através das redes sociais e, cada conversa - seja por telefone ou Skype - traz mais demonstrações de afeto, vem repleta de novidades; de vez em quando traz uma lágrima de saudade, mas SEMPRE muitos, MUITOS motivos para sorrirem juntos. Porque todos nós sabemos que o homem “Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu."

…Tudo isto pois, quando se decide fazer algo novo, todos que você ama compartilham destas novas experiências com você.

Olá! Estou eu aqui mais uma vez para trazer informações de além-mar.

Cheguei  aos 5 meses de intercâmbio! Estou  em férias de verão da universidade até setembro e, em Portugal este mês de agosto é o mês auge do turismo. 
As cidades recebem um número infinito de imigrantes vindos principalmente de França. São centenas deles avistados nas ruas durante o dia. Muitos deles são portugueses que emigraram para França em busca de condições melhores de vida e trabalho e durante às férias retornam ao seu país com os filhos a fim também de rever a família que por aqui deixaram.

Acontece também dos estudantes portugueses irem no mês de agosto à Paris trabalharem: juntam o dinheiro recebido para uma ocasional viagem ou entregam o que recebem aos pais – como um pagamento pelo sustento durante todos os outros meses do ano.

Bragança, a cidade transmontana aqui no norte de Portugal, onde vivo, ferve pelo calor de verão de 32 graus, pelo aguardo dos eventos e concertos ao ar livre durante agosto. O acontecimento mais próximo será em 11 e 13 deste mês: o “Mister e Miss Emigrante Bragança Shopping”!!  

Se não fossem pelos turistas, a cidade em si estaria mais calma: por ser mês de férias e a cidade universitária, quase todos os estudantes retornam às suas cidades, aldeias ou países – para estes no caso dos estudantes Erasmus. As discotecas estão pouco frequentadas ultimamente… O local que mais tem atraído gente são as piscinas públicas: paga-se 3 euros para seu uso durante todo o dia, MAS das 19h às 20h, paga-se apenas 1 euro. (Sim!! Ainda há Sol até as 21h30 em média durante o verão). Estas piscinas públicas são o divertimento das crianças e jovens que por aqui moram e não viajam durante as férias.

Outro sítio (lugar, no português de Portugal) frequentado por todos seja inverno ou verão, são os Cafés. Faz parte da cultura europeia ir a um Café principalmente após o almoço e o jantar.
Há alguns meses tenho trabalhado em um. Na verdade são dois estabelecimentos -  o mesmo dono, mas em locais distintos da cidade. Os Cafés são como bares ou delicatessens, vendem de tudo um pouco: desde bebidas alcoólicas à lanches e claro, o fortíssimo café português.

Pasteis de nata: especialidade portuguesa
Os Cafés têm uma cultura própria: muitos jovens vêm a fim de utilizar a internet (Wi-Fi gratuita, é importante ressaltar) ou reunir-se com o grupo de amigos. Quase sempre pedem cafés ou cervejas (as mais comuns chamam-se Sagres e Super Bock). Os mais adultos normalmente vão com os filhos pequenos, tomam gelados (sorvetes e picolés) e comem os ítens da pastelaria (folheados cobertos com creme de ovo ou os famosos pasteis de nata). Já os mais idosos, frequentadores exigentes, assíduos e fiéis de um mesmo estabelecimento, vão em busca mesmo  é do café. Os velhotes (como são chamados aqui… Não sei se carinhosamente ou de modo pejorativo) gostam que levem os jornais do dia até eles. Para homens quase sempre os jornais de esporte ou notícias em geral e, para as senhoras as revistas com notícias de famosos e telenovelas. 

Chávena de café
É típico destes senhores estarem muito bem arrumados para irem ao Café. Como, muitas das vezes, são pessoas já reformadas (aposentadas), passam grande parte da manhã sentados nas mesas a conversarem. São calmos, mas ficam descontentes se não são atendidos imediatamente ou se não lembramos quais são seus pedidos diários ou a quantidade de adoçante que se deve pôr. Por exemplo: há um senhor que SEMPRE toma um café curto com uma tarte de maçã em miniatura. E uma senhora que SEMPRE compra 4 pães bijús e um café longo com dois açúcares. Há muita graça nisto. E exige MUITA paciência.

Tomar café aqui na Europa é um ritual: primeiro deve-se saber os tipos e a quantidade que irá em cada chávena (xícara). Há os cafés curtos, os cafés cheios, cafés normais, os cariocas de café, os pingos diretos, meias de leite, galões, etc… A maioria pede os cafés normais, que são feitos pelas máquinas (colocamos apenas o pó por cada chávena feita) e são bebidos em apenas um gole e muitas vezes sem açúcar – uma senhora uma certa vez disse-me:

- Percebes, rapariga? Se tu metes açúcar, a pureza do café é perdida!

Outros dois pontos interessantes de uma estudante em intercâmbio como eu estar a trabalhar num Café, é o sistema de trabalho próprio para nós estudantes: trabalha-se apenas 4horas por dia; é o chamado trabalho em part-time. E o facto de estar sempre em contacto com pessoas de diversos lugares, forçando a prática de idiomas – mesmo que sejam um inglês, espanhol ou francês iniciais – a fortalecer o contacto com a cultura dos lugares. 

Foto de um café europeu. (Retirada da internet)
Conhecem-se pessoas... E meu sotaque denuncia fácil, fácil de onde sou!!! Aprende-se a ter jogo de cintura, saber lidar com situações inusitadas, sorrisos sinceros, olhares de insatisfação. E o mais importante: procuro ver em todos uma oportunidade de contacto. Se percebo que a pessoa é mais aberta à conversa, não deixo de iniciar um breve diálogo sobre o Jornalismo – vai que dou a sorte de atender um editor de um grande jornal europeu!?!? 
Algumas pessoas se surpreendem quando digo que estou aqui para estudar. Digo também que estou em intercâmbio, que já viajei a outros países e ao perguntarem qual a minha zona no Brasil digo que é a Bahia… 

E sempre é a mesma resposta: 

- São Salvador da Bahia!!?? Gostava muito de ir lá passar férias. Carnaval, caipirinha, Copacabana…
- Ops, senhora… Um momento! Rio de Janeiro e Bahia não são os mesmo lugares…

(Depois do importantíssimo esclarecimento, desapontada, muitas vezes deixo o assunto morrer aí). =P 

Por fim, o que posso dizer que ainda não tem me agradado são as gorjetas: não percebi ainda se os portugueses são mesmo mãos-de-vaca ou se a crise está mesmo agravada e tem feito eles abrirem cada vez menos a carteira.    

Na postagem anterior escrevi que os textos do blog passariam a ser escritos de um outro local e consequentemente a temática abordada seria completamente diferente.

Pois aqui estou eu, revirando o baú da minha memória recente a fim de relatar a vocês, caros leitores do “Abre Aspas, o balanço de 3 meses da minha nova experiência como intercambista em terras europeias. Estarei cá em Portugal pelo período de 1 ano e estou a estudar a área de Jornalismo / Comunicação no Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

Aterrissei na capital  lusitana, Lisboa, no dia 19 de fevereiro (2011), um sábado. Foram oito horas de emoção à bordo do avião da TAP - sim, era o meu primeiro voo!  As sensações eram de ansiedade, falta de sono, cãimbra e um "medinho de nada" quando tentava imaginar o que estava por vir.
ÀS 7 horas da manhã – horário de Salvador , 11h da manhã em Lisboa – eu e mais uma colega também com o mesmo destino que eu, já estavamos no salão de desembarque do aeroporto internacional de Lisboa. Uma prima minha que já vive aqui há alguns anos nos encontrou para irmos até a sua casa em Leiria (119 Km de Lisboa) onde passamos o fim de semana. Chovia e a temperatura média era de 14 graus C.

Já na segunda-feira , 21 de fevereiro, segui  de auto-carro (ônibus, em “brasileiro”) até a cidade onde estou, Bragança. Literalmente cruzei o país! Foram 7 horas de viagem – 394 km - com pouquíssimas pausas e uma conexão no meio do caminho, inclusive na cidade do Porto onde eu fiquei fascinada pela beleza do lugar e semelhança com algumas ruas do centro histórico minha terra natal, Salvador.
Passei pelas cidades portuguesas de Lisboa, Leiria, Vila Nova de Gaia, Porto, Viseu, Vila Real, Mirandela, Macêdo de Cavaleiros e por fim, Bragança.

E agora, cá estou eu, disposta por dar início a esta partilha de experiências e tentando mostrar um pouco da cultura portuguesa/europeia, as formas de se relacionar, as novidades, situações curiosas, expectativas e um pouco mais de tudo que eu consigo viver nestas 24horas diárias que parecem ser tão poucas se analisada a intensidade de coisas que vejo e aprendo em apenas um dia. Nesta aprendizagem incluo principalmente a quantidade de pessoas que tenho conhecido de várias partes do mundo – Espanha, Polônia, Eslovênia, Turquia, Romênia, República Tcheca, Costa Rica, Panamá, etc. Além da minha busca em aprender  o modo como se enxerga o mundo por aqui – e isto tenha certeza, é muuuito diferente!! – e como se pensa e se faz o jornalismo.

E o melhor: tenho aprendido ainda mais a respeitar e lidar com o diferente, com culturas tão distintas e sendo assim, também des-esteriotipar a cultura do meu país. Mas a relação Brasil  - Portugal já é assunto para outro post. Até lá! J

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